Carga mental e trabalho de hoje: aliado ou vilão?

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Carga mental e trabalho de hoje: aliado ou vilão?

26-11-2015 | Noticias | Comentários: Nenhum Comentário

A crescente concorrência, em níveis locais e globais, dentre outros fatores, tem levado as empresas a adotar práticas de redução de custos e aumento da rentabilidade que apresentam fortes impactos na gestão de pessoas. Se por um lado fenômenos como a redução do quadro de pessoal, o aumento da insegurança relativa ao emprego, o declínio do valor senioridade, são cada vez mais frequentes, por outro lado, as pessoas tornam-se os principais ativos intangíveis, já que apenas elas têm a capacidade de criar e inovar, tornando-se fontes de vantagem competitiva para as organizações. É neste contexto que surgem as novas formas de trabalho e com estas, um amplo advento das tecnologias que juntamente com maiores exigências por criatividade e flexibilidade, aumentam o cunho mental do trabalho.

Se tais tecnologias por um lado visam a aumentar à produtividade, diminuir distâncias, facilitar a comunicação dentre outros processos relevantes, por outro lado, imprimem um ritmo muito mais veloz e implicam em uma necessária reelaboração, por parte dos trabalhadores, de seus mapas mentais do trabalho. Assim, tem-se um suposto alívio do corpo, mas certamente aumentam-se as exigências cognitivas.

Etimologicamente, o vocábulo “carga” tem sua origem na palavra latina carrus que é um veículo de transporte terrestre. O substantivo feminino “carga”, daí originário, significa efetivamente “aquilo que é ou pode ser transportado em carro ou suportado por alguém ou alguma coisa”. A título de curiosidade, é também desta origem que deriva o termo cargo, enquanto “incumbência, carga da função”. De forma geral associam-se ao termo carga, sinônimos como fardo, peso, jugo, encargo, responsabilidade, ônus, dentre outros. Assim, observa-se que é comum atribuir-se ao conceito uma conotação negativa

Toda atividade de trabalho possui uma carga mental, a qual pode ser considerada baixa, média, alta ou exageradamente elevada. Uma carga mental percebida como baixa (subcarga) pode gerar nos colaboradores certa desmotivação e falta de atenção, ocasionando um maior número de erros. Uma carga mental moderada, pode estar mais adequada ao perfil do profissional, no entanto pode ainda não estar num nível ideal para o sujeito em questão. Uma carga considerada alta pode ser muito motivadora e desafiadora, no sentido de requerer maior nível de atenção, podendo inclusive favorecer inicialmente a redução dos índices de erro. Por outro lado, a vivencia prolongada de situações com altos níveis de carga mental pode gerar fatiga e stress. Por fim, a sobrecarga, como o próprio nome o indica, pode ocasionar alto nível de fadiga, stress bem como o aumento do número de erros e de acidentes de trabalho.

A carga mental depende das exigências da tarefa e do grau de mobilização do sujeito, da capacidade de trabalho que o mesmo investe na tarefa, considerando-se que o grau de prazer e satisfação no trabalho pode variar em função da natureza da tarefa executada. Alguns estudos mostram que a formação profissional ajuda a reduzir a carga mental do trabalho o que diminui a possibilidade de erro.

Outro ponto interessante é que se conhecendo os fatores intervenientes na carga mental pode-se prevenir possíveis sobrecargas ou subcargas. Uma questão prática que se coloca, no entanto é que as transformações nas situações de trabalho ocorrem a uma velocidade tal que fica difícil de avaliar com precisão a carga mental. Tendo em vista as limitações que se impõem ao seu estudo, bem como aos diversos fatores que a influenciam (intrínsecos e extrínsecos aos sujeitos), não se pode afirmar de modo indistinto e descontextualizado que o impacto de uma maior carga sobre os indivíduos seja positivo ou negativo, pois não podemos negligenciar a capacidade dos seres humanos de se adaptarem continuamente às exigências do meio. Assim, cada situação deve ser analisada dentro de seu contexto e realidades específicos a fim de termos sempre profissionais motivados, produtivos e felizes no seu ambiente de trabalho.

Sabrina Romero
Psicóloga e Consultora em Gestão de Pessoas e Desenvolvimento Organizacional

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